"A violência não leva a lugar nenhum", repete Irmã Alicia. As esperanças da religiosa são colocadas na comunidade internacional, "para que possa contribuir para deter esta loucura, este abismo". E conta: "Estamos vendo coisas que não tínhamos visto desde que chegamos aqui, coisas que não aconteceram durante a segunda intifada. Os conflitos dentro das comunidades, que mais ou menos coexistiam pacificamente - explica - são assustadores para o nosso presente, mas acima de tudo para o nosso futuro. A violência que irrompeu nas ruas é ainda mais preocupante do que a violência manifestada com bombas que explodem edifícios, mesmo que seja menos visível, menos ‘escandalosa’. O tecido social está ferido, profundamente dilacerado. A sociedade está doente por dentro".
"Toda vida humana é preciosa. A proporção na morte de civis e crianças é óbvia. E isso segue sempre adiante". A Irmã Alicia insiste no aspecto de que "este ataque a Gaza corre o risco de desviar a atenção do coração, das causas do conflito, que teve origem em Jerusalém por questões muito concretas: a impunidade dos colonos, o despejo de suas casas, a dificuldade dos palestinos viajarem para a Cidade Santa.... Infelizmente, não são dadas resposta para os problemas reais que as pessoas vivem diariamente". A missionária comboniana mostra uma realidade sem filtros, em Jerusalém Oriental, marcada por uma aparente calma, muito tensa, falsa. "A presença dos militares é muito forte, mesmo dentro da parte árabe. Em todos os lugares há barreiras. Às vezes as pessoas conseguem ir ao trabalho – afirma a Irmã - às vezes não. Isto não é normal. Muitas vezes há confrontos entre jovens e soldados e a repressão é muito forte. Há muitos pontos dolorosos. É o recrudescimento de um conflito no qual há vítimas por todos lados. "Estou muito preocupada com as amputações morais dos jovens", continua a religiosa. "Quando se chega a tal devastação, significa ter que fazer um corte drástico nos valores. Ambos os lados estão muito feridos, amputados".
A missão das combonianas, em todos os lugares, é estar nas periferias. Em Jerusalém esta peculiaridade é muito evidente: vivem no Monte das Oliveiras, nos três lados do jardim da casa passa o muro de separação que divide a cidade de Jerusalém dos territórios ocupados. "Quisemos preservar uma presença também do outro lado do muro: pode ser vista, mas não se pode encontrar facilmente". Temos muito cuidado em colaborar com ambos os lados, com os dois povos da Terra Santa", ela esclarece, mencionando o trabalho tanto com ativistas israelenses, "que realmente querem abrir brechas, encontrar soluções, construir pontes", quanto com palestinos.
Em Israel, o trabalho é com médicos pelos direitos humanos, com organizações que trabalham especialmente com refugiados e requerentes de asilo. Na Palestina o compromisso é com os beduínos, no deserto de Judá, através de uma rede de creches, projetos para a promoção da mulher, animação missionária na Igreja. E conclui referindo-se à presença de algumas "irmãs na comunidade católica de língua hebraica que são particularmente afetadas por tensões políticas e sociais. É uma minoria dentro da minoria".
Um apelo à reconciliação e ao perdão parece quase retórico, mas talvez seja precisamente essa a palavra profética, de acordo com a Irmã Alicia. "Se não formos capazes de quebrar o círculo de violência, mesmo que sintamos que estamos no caminho certo, não sairemos dele. A palavra do Papa não é retórica. Tenhamos essa coragem de quebrar o círculo, mesmo que não sejamos capazes por causa do peso da história; inventemo-lo, caso contrário não sairemos dele.
Fonte: Vatican News
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